quarta-feira, 22 de junho de 2011

ROMANCE-POLICIAL: EU SOU QUEM VOCÊS PROCURAM (trecho)

Capítulo 1 - APRESENTAÇÃO PESSOAL


     Quem sou? Não posso dizer. Preciso manter minha identidade em sigilo. Talvez seja mulher, ou cego, ou advogado. Estou molhado. Permaneço na banheira e me sinto mais limpo. Esquizofrênico, prepotente, imprudente, ingênuo, genial, insensível, exibicionista? Pode ser! Até é sob ponto de vista bem limitado. Na verdade, sejamos francos: todos necessitamos aparecer. Necessidade vital, senão nada somos, decerto para nós mesmos, e como morreremos, nada seremos. Por vezes, torço para me identificarem, mas não creio. Estou certo disso e continuo molhado, imóvel. Penso no ponto de partida da obra da qual participo como personagem principal. Entendo ser crucial ter nome, então podem me chamar de Doutor Escritor. Sim, Doutor Escritor. O verdadeiro será fornecido no decorrer da narrativa. Sinto muito! Ninguém descobrirá quem sou pois tenho que permanecer escondido. Contudo, com solidariedade, deixarei rastros. Sigam. Talvez, um dia, quando estiverem em minha direção e forem meus coadjuvantes, terei o prazer de revelar-lhes meu nome completo, e o sobrenome será a última palavra que ouvirão em suas vidas simplórias e sem graça. A história começa aqui. Pego a toalha e me enxugo de forma incompleta, me vejo no espelho e mal absorvo minha imagem, deformada na secura de meu corpo. Pareço mutante. No entanto, estou na forma original após retirar a última gota. Suo como forma de lembrar-me da forma mutante, mas a inconsciência me toma a mente e a inspiração habitual adentra em minha alma sem aviso prévio. Torço para ser momento único. Pressinto o sucesso. Toalha branca é essencial. Saber se render, desisitir na hora certa, dar chance ao inimigo e depois é só vê-lo baixar a guarda. Atitude patética. Cena fatal. Descalço, escovo os dentes sem sentir minha boca pecaminosa e dormente. Passo os dois minutos vestindo roupa que nem é minha, mas me cabe. Quero ser outra pessoa. Saio do banheiro e entro no quarto, me vejo no espelho, e sou eu mesmo. Quem sou, afinal de contas? Encaro-me e fico puto. Preciso agir novamente...

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